Conclusões
A realidade do panorama da imprensa desportiva online em Portugal apresenta-se, desde logo, com uma variedade de publicações diárias, que poucos países na Europa oferecem tendo em conta a proporção entre jornais e população. Portugal é um país com cerca de 10,6 milhões de habitantes e apresenta cinco jornais desportivos online profissionais (não contando com os Blogs), isto se comparar-mos com Espanha que tem uma população na ordem dos 45 milhões e tem quatro títulos oficiais online dedicados ao desporto ou com a Itália que apresenta uma sociedade com mais de 59 milhões de indivíduos onde existem cinco.
Estes jornais “A Bola”, o “Record”, “O Jogo”, “Maisfutebol” e “Infordesporto” têm sobre eles, algumas particularidades que tive a preocupação de analisar de forma a que pudesse chegar a esta fase do meu trabalho e conseguisse tirar algumas elações de forma a formular uma amostra válida.
Comecei por abordar um pouco da História dos jornais online, fundamentalmente nos desportivos em Portugal, logicamente por serem estes os alvos do meu trabalho. Após inúmeras pesquisas concluí que de uma maneira ou de outra os jornais portugueses desportivos online foram criados numa primeira instância, para oferecerem aos utilizadores, precisamente aquilo que eles poderiam ver na edição escrita. Os jornais tinham muitas limitações. Primeiro na exploração de todas as potencialidades da internet, para aprofundamento da informação, na medida em que eram simples “copy paste” dos impressos, e segundo e fundamentalmente quando a interacção com os leitores temos em linha de conta. “O jogo” o primeiro dos três jornais impressos a surgir, foi durante muito tempo uma passagem para o online, dos conteúdos impressos. “O record”, o segundo dos três a aparecer, tentou desde logo lançar-se num formato que agradasse ao leitor, e que não se limitasse a ter a mesma função do “papel”. A interactividade foi-se alargando, e as inovações técnicas provenientes das possibilidades que a internet nos dá, foram-se aplicando. A secção de comentários no final de cada notícia, para um contacto directo entre leitor e jornal foi desde logo implementado. “A Bola” foi o ultimo a surgir, após algumas hesitações, e pouco acrescentou à sua edição impressa. Inovações gráficas foram aparecendo, mas a possibilidade de interacção com o jornal foi algo que só apareceu este ano de 2009! No entanto surgiram também dois jornais desportivos com formatos exclusivamente digitais. O “Maisfutebol” e “Infordesporto” vieram trazer diversidade, e uma forma nova de “ler” o desporto, com a complementaridade que a web proporciona. Vídeos, fotos e áudio acrescentaram valor às notícias, e o contacto directo com o público passou a ser uma realidade cada vez mais vincada. Estes dois, poderão ter influenciado os outros três jornais bi-formato (Jogo, Bola, Record), na medida em que adoptaram posteriormente uma politica de produção de alguns conteúdos exclusivos, para as edições online, muito por culpa das “notícias na hora”.
Com isto, decidi depois, tentar dar conta, de algumas diferenças entre as potencialidades dos jornais online, com os jornais tradicionais. Principalmente naquilo que assenta a problemática do meu trabalho, ou seja, na possibilidade que a internet oferece aos leitores de comentarem o trabalho dos jornalistas, num feedback “in Loco” aos artigos que estes publicam. Algo que não é possível fazer, em relação aquilo que lemos nos jornais impressos, onde se quisermos entrar em contacto com o jornalista ou jornal, de forma a criticar ou elogiar o seu trabalho, teria que ser, como acontecia antigamente, por carta, que quase sempre carecia de resposta, ou se esta existisse o tempo de espera seria penoso. Nos jornais online, podemos dar a nossa opinião na hora, e supostamente poderíamos dialogar com o jornalista de forma a alertá-lo para esta ou aquela situação, positiva ou negativa, que o leva-se ou a tornar mais confiante por perceber que o feedback do público em relação ao seu trabalho é bom, ou a tornar-se mais equilibrado, e rigoroso nas mais variadas situações de forma a não ver o seu trabalho reprovado em público. No entanto comecei após a minha análise a concluir as primeiras respostas. Os jornais online, para além de inicialmente não permitirem ao leitor, interagir com a sua redacção ou jornalista, abriram alguns precedentes nos feedbacks, que fizeram com que os “fins” deste espaço, se tornassem outros, que não aqueles que estariam inicialmente previstos, e que seriam efectivamente bastante úteis para a melhoria da informação.
Posto isto, fiz a minha pesquisa “prática” pelos cinco jornais desportivos em análise, procurando notícias susceptíveis de serem comentadas pelo leitor, direccionando-se directamente ao jornalista. Após a observação e a análise ao material recolhido, assim como com o testemunho dos quatro jornalistas com quem falei, e nove leitores que entrevistei, constatei aquilo que seria a grande questão desta problemática. Efectivamente os espaços dedicados ao feedback do público, em nada ajudam à qualidade noticiosa porque basicamente, não visam como era esperado, a interacção entre o leitor e o publico.
Nos media online, o objectivo das caixas de feedback e comentário no final de cada artigo, era aquando a sua criação, estabelecer um ponto de ligação entre o seu autor e os seus leitores, veiculando uma determinada informação com um determinado tom, de forma a que o jornalista pudesse perceber se o seu trabalho tinha ido ao encontro da expectativa do utilizador. Esses comentários poderiam, por um lado, em caso de elogio, gerar uma onda de entusiasmo em torno do jornalista visado, motivando-o a continuar com o tipo de rigor e métodos apresentados. Por outro lado, em caso de critica, levariam a um constrangimento do jornalista, na medida em que este veria, o seu trabalho manchado “à queima-roupa” e em publico, e ficaria com receio de voltar a falhar. Imperava um equilíbrio do jornalista, que só melhoraria a informação.
Hoje em dia, a possibilidade técnica de comentar um artigo levou-nos a um novo paradigma. Quando se comenta num determinado artigo num determinado jornal desportivo online, não estamos a interagir com o seu autor. No máximo, estamos a interagir com outros comentadores, embora dentro do espaço de opinião destinado ao autor.
Ao jornal reconhece-se a autoridade quer técnica, quer moral de aprovar ou não um determinado comentário, se ele acreditar que o mesmo contribui, para dar valor e eventualmente melhorar o artigo, e fazer com que o jornalista mantenha a sua atitude ou a possa alterar no futuro.
Mas estes órgãos de comunicação social desportivos que analisei, que apostam em força na web e que permitem actualmente comentar os seus artigos não terão a meu ver, uma visão clara do pretendido com os comentários.
Os jornais aplicam políticas muito próprias de moderação dos comentários, sejam automatizadas ou individualizadas, facto é que os objectivos deste feedback hoje em dia passam por outra situação.
Depois de inúmeras pesquisas, não vi nenhum comentário a elogiar ou a criticar a peça do jornalista, pelo menos no local apropriado. Os espaços servem essencialmente para leitores, interagirem com outros leitores, falando da actualidade da peça.
Nos jornais online desportivos, a possibilidade de comentar trás com eles um conjunto de características que tive a oportunidade de observar. Os comentários podem ser anónimos ou assinados, embora nada garanta a identidade do comentador; e os mesmos são publicados, supostamente devendo respeitar as políticas e os critérios de aprovação dos jornais. Estes critérios são deveras importantes, mas não definem de forma precisa algumas regras, e o facto de os espaços de feedback terem hoje a utilização que têm, mostra isso mesmo. Encontrei inclusive em algumas pesquisas que fiz, comentários de cariz comercial, ou seja, sem qualquer tipo de moderação neste sentido.
Aos leitores que só querem ler as noticias, e que esperam que a informação seja objectiva, bem escrita e apresentada de forma rigorosa, para que serve a actual função dos comentários? Basicamente para nada, pois estes não servirão, para dialogar com o jornalista.
Os utilizadores regulares de jornais online desportivos que entrevistei, de uma forma geral, revelaram-me que de facto, os comentários são feitos para auto recriação dos leitores, e para defenderem os seus clubes, na maioria das vezes. Uns activos outros não, no que aos feedbacks diz respeito, consideram que estes comentários são uma funcionalidade que só a internet proporciona, mas que essa interacção não é de facto entre jornal e leitor, mas sim, de leitores para outros leitores. A maioria acredita, que este espaço poderia ser usado de uma outra forma, para se conseguir chegar ao jornalista, de modo a opinarem, sobre o seu trabalho e a maneira como o expõe.
Curiosos foram alguns dos testemunhos que recolhi de jornalistas da especialidade. Mesmo afirmando que os objectivos desta funcionalidade para a interacção entre utilizador e autor não são cumpridos, e que se banalizou a prática tipo “fórum” nesses espaços de feedback, o certo é que existem alguns jornalistas que de certa forma cautelosos que algum leitor os critique e faça valer realmente o objectivo desta aplicação, se sentem constrangidos em escrever nos online. Não querendo de todo, se exporem a uma possível “humilhação” profissional, por o publico comentar no seu trabalho, algo que não gostaram, certos jornalistas online, só se sentem verdadeiramente confortáveis a escrever em Blogs, onde escrevem sem pressão ou receio de feedbacks negativos. Nos Blogs escrevem sem qualquer tipo de autocensura. Estes jornalistas consideram ainda que o comentário deve servir como uma ligação, entre leitor e jornalistas mas que nos dias de hoje, são na maioria dos casos utilizados como forma meramente opinativa.
E afinal o que poderia ser feito, para que os espaços a comentários e feedback do leitor, pudesse reaver os objectivos que tinham aquando a sua implementação? De que forma poderíamos melhorar a funcionalidade de comentar as notícias chegando ao jornalista que a escreve, e consequentemente dialogar e melhorar a qualidade da informação? Há várias possibilidades que poderiam ser aplicadas, mas cada uma delas obriga o jornal online a reflectir sobre aquilo que se pretende para o meio em si. Tecnicamente, todas estas possibilidades existem e já foram implementadas algures, como tal, não as apresento como forma de tentar “salvar o mundo” ou a forma como os comentários são usados, mas somente como a minha opinião relativa à pesquisa realizada acerca desta problemática.
A aplicação dos chamados Filtros sociais são, e seriam mediante a escassa “conectividade” entre publico e jornal, a possibilidade de os leitores classificarem as noticias e o trabalho do jornalista e de mostrar a todos os utilizadores o que pensam sobre a qualidade informativa de determinada noticia.
A melhoria da eficácia da Moderação, através da moderação humana e não de moderação automática. O facto é que esta tem de existir porque na minha opinião a qualidade dos comentários deve estar ao nível da qualidade dos artigos que os comentários acompanham. Um leitor e utilizador, sempre que abre um artigo num site, pretende qualidade, e como tal os feedbacks publicados, não podem ser aqueles que são hoje, mas sim, aqueles que ajudem a melhorar a prática noticiosa.
Os jornais devem definir e promover as suas políticas, ou seja, devem abrir o livro e definir as regras antes de o jogo começar. A existência de uma política para a utilização da funcionalidade de comentar ajuda a estabelecer os parâmetros em que o comentador pode actuar e ajuda a nivelar as expectativas dos leitores. Se o leitor souber antemão que o espaço só serve para interagir com o jornal ou jornalista, e para lhe fazer chegar a sua satisfação ou critica construtiva relativamente ao seu artigo, não vão comentar o facto de não gostarem deste ou daquele clube, ou deste ou daquele jogador.
Posto isto apercebi-me de como funciona a suposta interacção entre leitor e jornais, que os media online desportivos oferecem aos seus utilizadores, e se isso faria com que o jornalista alterasse a sua atitude, e práticas jornalísticas.
Dado que os comentadores não estarão propriamente a interagir com os autores originais dos artigos estes espaços não são mais do que meros fóruns de opinião. Em última análise, servirão para alguns poucos utilizadores trocarem ideias, promoverem ideologias e trocarem opiniões relativamente à qualidade informativa.
Os comentários nos sites dos jornais desportivos são uma realidade incontornável. Porém, a falta de uma visão clara e de objectivos definidos e concretos para esta funcionalidade que somente a internet permite, acabam por não gerar uma interacção mais profunda com o seu principal utilizador, os seus leitores. Interacção, que a longo prazo gera confiança e assiduidade no produto noticioso e no seu autor, transformou-se numa discussão quase de “café”.